O cardápio do café da manhã do gerente Fábio Shiavi Delpadre inclui frutas, leite e pão. Mas, há alguns dias, a combinação continha frios, embutidos, refrigerantes e até cinco pães de uma só vez. Pelos próximos 27 dias, a dieta de Del Padre será acompanhada de perto no Hospital das Clínicas (HC) por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP).
Ele faz parte de um estudo que apontou que a diminuição na quantidade de proteínas ingeridas pode ajudar pacientes diabéticos a equilibrar os níveis de glicose no organismo. Segundo os pesquisadores, o objetivo é controlar a alimentação de forma que não seja necessário aumentar a quantidade de medicamentos para a doença.
O diabetes tipo 2 ocorre quando o organismo desenvolve resistência à insulina, o hormônio produzido no pâncreas. O resultado é uma elevação do nível de glicose no sangue. Segundo o Ministério da Saúde, a doença atinge 8,9% da população e apresentou crescimento de 61,8% em dez anos. Obesidade, alimentação inadequada, histórico familiar e sedentarismo são fatores de risco.
Dieta para equilibrar glicose
Na primeira fase da pesquisa da USP, os voluntários com a doença foram submetidos a uma dieta rigorosa, com corte de 25% do total de calorias ingeridas. Segundo a professora do Departamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP Maria Cristina Foss Freitas, os pacientes apresentaram melhora nas taxas de glicemia.
“Esses pacientes chegavam com glicemias bem alteradas, triglicérides elevados, colesterol total elevado, LDL, que é colesterol ruim, elevado. Todos iam embora com esse níveis normalizados, além da pressão arterial. Muitos chegavam com a pressão arterial bem descompensada e a gente normalizava.”
O que chamou a atenção dos pesquisadores é que vários pacientes precisaram reduzir a quantidade de medicamentos recebidos para tratar tanto a diabetes quanto a hipertensão.
Redução de proteínas
Apesar dos resultados promissores, a dieta mais rígida foi considerada um empecilho para os pesquisadores, uma vez que os pacientes têm dificuldade em manter hábitos alimentares saudáveis.
Por isso, os testes da segunda fase consistem em uma dieta elaborada conforme as necessidades de cada paciente e com foco na redução do consumo de proteínas.
“Nós reduzimos a quantidade de proteína [carnes], mas o mínimo necessário porque o organismo precisa dela. Neste protocolo, nós restringimos até 10% do valor calórico ideal para o paciente. Então, tem proteína, mas bem menos do que nossa cultura está acostumada”, explica o pesquisador Rafael Ferraz.
De acordo com Maria Cristina, há um consenso de que a alimentação saudável é tão importante como qualquer outro tratamento, mas a pesquisa pode ajudar os médicos a dimensionar exatamente o quanto a ingestão dos alimentos influencia a terapêutica aplicada.
“A ideia é a gente documentar que esse tipo de intervenção, que não é fácil e que depende muito do paciente, é uma intervenção muito menos prejudicial do que o uso de diversas medicações ou com menos risco para tratar o diabetes.”
Fonte: G1.com.br