“Ao longo dessa vida, eu aprendi mais do que ensinei”. Com essas palavras, o professor Ernane Nelson Antunes Gusmão encerrou a Sessão Científica Comemorativa dos 50 anos de Hemodiálise na História da Nefrologia na Bahia, que aconteceu na manha de quarta-feira (10), no anfiteatro do Hospital Universitário Edgard Santos.
O evento reuniu profissionais da área médica, professores e amigos de Ernane, que relatou como aconteceu o processo de realização da primeira hemodiálise, no ano de 1968, no Hospital das Clínicas (UFBA). Para isso, ele contou um pouco da sua trajetória profissional que o levou por este caminho, segundo ele, cheio de sincronicidade, uma vez que seus planos ao concluir os estudos, era atuar em clínica médica e pediatria, mas acabou se tornando um dos responsáveis pela implantação e desenvolvimento da nefrologia na Bahia.
De acordo com Ernane, o primeiro paciente a ser tratado com a hemodiálise na Bahia foi diagnosticado com insuficiência renal aguda em decorrência de picadas de abelhas. Os desafios naquela época eram enormes, desde os equipamentos disponíveis às próprias técnicas aplicadas, de forma artesanal e insegura.
O Coordenador do Serviço de Nefrologia do Hospital, professor Antônio Raimundo, que esteve à frente da organização deste evento, falou que a sessão foi uma homenagem a todos os mestres da época. “É importante ouvir como foi o pioneirismo da hemodiálise para reafirmarmos o valor de toda estrutura que nós hoje dispomos para realizar esse trabalho”, destacou.
Ele aproveitou para ressaltar que, ao assumir o Serviço de Nefrologia, recebeu uma estrutura e profissionais altamente capacitados e, ao lado do nefrologista Dr. Luiz José Cardoso Pereira, Coordenador da Unidade de Diálise pretendem inaugurar uma nova fase da diálise.
Novos Projetos
O Coordenador da Unidade de Diálise, Dr. Luiz José, que introduziu o programa de diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) no Hospital das Clínicas no ano de 1989, destacou que vê a história da primeira hemodiálise muito próxima da sua trajetória, cheia de desafios. Quando começou a fazer residência em nefrologia, no ano de 1984, o programa de hemodiálise iniciado por Dr. Ernane já havia sido interrompido, de modo que os pacientes com insuficiência renal só podiam ser tratados com a diálise peritoneal intermitente (DPI). Ele conta que esse método evoluiu bastante, de um sistema aberto, artesanal, inseguro, para o que os pacientes dispõem hoje.
Ele pontuou dois importantes momentos para a diálise, o primeiro em 1991, com a inauguração da primeira unidade de hemodiálise no Hospital das Clínicas, e em seguida, com a segunda unidade, em 2003. Porém, desde que começou a funcionar, a segunda unidade nunca teve uma manutenção preventiva adequada, o que ocasionou o desabamento do teto, em 2015. Desde então, a ala está passando por uma reforma, prevista para ser entregue em novembro deste ano.
Uma das mudanças que Dr. Luiz pretende fazer é na sistemática de admissão de pacientes com doença renal crônica necessitando de diálise de urgência, pois na maioria das vezes, eles chegam ao hospital e não sabem que tem problema renal, sendo submetidos à hemodiálise através de cateter vascular provisório e precisam aguardar um bom tempo até que seja feita a confecção da fístula arteriovenosa (FAV), aumentando o risco de complicações como infecções e tromboses.
Para melhorar essa realidade, está sendo preparado um programa que pretende prestar um atendimento de urgência com o uso da diálise peritoneal e com o suporte do Projeto Acolhimento, realizado por equipe multidisciplinar composta de médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e nutricionistas. A ideia é preparar o paciente e seus familiares para que eles entendam o que está acontecendo, enquanto ele já está sendo tratado através da DPI, como no passado, mas agora com o uso de sistema fechado e automatizado. Assim que houver uma melhora clínica, se puder escolher, o paciente faz a opção de seguir o tratamento por diálise peritoneal domiciliar ou hemodiálise. “Ao invés de implantar o cateter de hemodiálise, vamos usar o cateter de Tenckhoff, usado na diálise peritoneal, enquanto o cirurgião confecciona a fístula e esse paciente poderá ser transferido para uma unidade de hemodiálise onde ele tenha melhor acesso. Desta forma, o paciente vai entrar em hemodiálise sem ter tido nenhum desgaste nos vasos sanguíneos e evitará complicações”, disse o médico.
A iniciativa ainda prevê que, se o paciente quiser fazer diálise peritoneal, ou seja, o tratamento em casa, receberá toda orientação para que seus familiares o auxiliem.
Ganhos
De acordo com uma pesquisa feita no Hospital Roberto Santos, coordenada pelo professor Paulo Rocha, a mortalidade em pacientes internados com necessidade de diálise de urgência é de 20%. Esse projeto deverá reduzir o número de falecimentos, custos com materiais que são usados no pronto atendimento, diminuição do tempo de hospitalização e trará mais segurança para o paciente.
Outra iniciativa do Projeto Acolhimento é cuidar do paciente antes que ele precise de diálise. A pessoa com doença renal crônica na fase de pré-diálise, nos estágios 4 e 5, será atendida pela equipe multidisciplinar e receberá orientações que a capacitará a optar pela modalidade de diálise que melhor se adapte ao seu estilo de vida, tudo de forma planejada, diferente de quem chega na urgência. Todas essas iniciativas resultarão na oferta de um atendimento mais seguro, que certamente refletirão numa melhor qualidade de vida dos pacientes.
Fonte: Assessoria de Imprensa Clínica Prorim